VOYEURISMOS, INDISCRIÇÕES E DESCRIÇÕES
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julho 20, 2009

NA solitária tem estado à janela, cabeça pendurada para baixo a ver quem passa.
Não estou muito certo de que veja efectivamente, passa a mão pelo dorso do gato que se arqueia todo e lhe roça a cabeça no queixo, no ombro, mas não responde aos afectos do felino, é um gesto maquinal sem emoção.
Apetecía-me gritar-lhe daqui, acenar-lhe, dizer que a compreendo e que não está sózinha, que eu sei da existência dela e que nada vale a pena para que cometa mais algum disparate.
Não digo nada, esse é um dos meus principios, não me envolver nem fazer parte da vida dos que observo, não tenho nem posso que alterar a realidade deles nem mudar-lhes o curso de vida. Por vezes custa-me, fico a pensar se tivesse intervido talvez o desenrolar da acção fosse mais favorável, mesmo que me custasse a minha posição de encoberto espreitador.
A mulher agora esticou-se toda para o lado de fora... Por favor, não saltes, não te atires!!!
Estou nervoso, começo a suar.
O gato desapareceu. Ela meteu-se para dentro. Corre os cortinados.
Que será que se passa dentro daquela casa, dentro daquela cabeça que parece tão perdida?

2 comentários:

Alberto Oliveira disse...

... também não é nada comigo, mas pela tua narrativa acho que a tua vizinha está neste momento na casa de banho a "entreter-se" com todos os comprimidos que tem em casa. Não seria melhor chamares o 112 para ficares de consciência tranquila e poderes escrever mais sobre ela no futuro?

MagyMay disse...

Então o gato não desapareceu?
Claro que a mulher se debruçou
...o gato estatelou-se no passeio...ó!!!