VOYEURISMOS, INDISCRIÇÕES E DESCRIÇÕES
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julho 26, 2009

NNoite escura como breu (continuam sem vir trocar a lampada do candeeiro lá embaixo na rua)
Tentava eu a todo custo vislumbrar um fio de luz através das persianas da casa da solitária, aperceber-me de qualquer movimento que fosse. Os olhos doíam-me de tanta insistência.
De repente, claridade ao lado da janela da loura, depois na outra e depois a repetição da cena selvática da mulher a ser agredida.
Arrepiei-me. Em simultâneo senti uma corrente subir-me pela espinha, creio que senti asco e ódio ou qualquer coisa muito parecida.
Normalmente não colo as minhas emoções a quem vejo, quer dizer, sinto se estão felizes e fico bem, vejo que estão tristes e torno-me nostálgico, mas nada para além disto, tudo muito ténue. Desenvolvi mecanismos de defesa sobre as emoções dos outros, é também uma forma de me defender e não extremar o que de um hobby passaría a ser uma loucura. Vejo-os mas não posso viver por eles, nem sentir com eles, não posso ser o pára-raios das suas vidas.
Mas a barbárie da agressão, seja a que nível for, é um estádio que me extravaza e descontrola.
Não posso, não devo, envolver-me na vida dos que assisto.
Mais uma vez, o homem reformado de camisola de cavas veio à janela, olhou ao alto.
Pouco depois, chegou a policia.
Um déjà vu que me parece, tornou-se quase banal na vida deste prédio em frente aos meus olhos.
Não sei que medidas a autoridade tomou, não consegui ver; Mas estiveram pouco tempo, o carro arrancou uma meia-hora após terem chegado.
A luz permaneceu acesa naquela janela até raiar o dia e alguém a desligar.
Estou cansado.
Mais pela impotência dos meus actos do que ter estado toda a noite a pé.

1 comentário:

MagyMay disse...

Quando há qualquer tipo de agressão, a noite é sempre escura como breu.
Acho que desta vez a cusquice não te foi inócua...

Beijo