VOYEURISMOS, INDISCRIÇÕES E DESCRIÇÕES
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julho 16, 2009

NA loura cumpre o ritual do cigarro já altas horas da noite. Cumpre o ritual de se acariciar nos seios enquanto fuma o cigarro.
Depois de a ter visto tão próxima de mim na padaria, perdi um bocado do interesse por ela. Para além de se ter revelado o mistério sobre o cantor de ópera, esta loura é figura passageira. Pelo que entendi há-de partir quando o dono do apartamento chegar.
E depois... A verdade é que o encanto de observar a vida dos outros através das janelas está intimamente ligado às fantasias que fabrico para cada um deles, enquanto não tenho a exactidão sobre o que fazem, o que pensam, como reagem. Depois que muito da realidade me é facultada através de informações obtidas para fora da visão que tenho, o encanto do voyeurismo dilui-se aos poucos, lentamente, até desaparecer por completo o meu interesse.
Podem achar que é uma contradição.
Para quê gastar horas e horas da minha vida se não fico a saber nada em concreto?
Por isso mesmo.
De que serve pôr a imaginação a funcionar, alertar os mecanismos da mente se tudo chega sem esforço, cru, real, exposto?
O voyeur não vive do exibicionista, num primeiro tempo, o que parecería uma relação ideal; Tal como o masoquista não encontra o prazer pleno nas mãos do sado.
Eu serei uma mistura destes dois tipos: O meu extase é não saber, o meu orgasmo a dedução.

1 comentário:

MagyMay disse...

"Gosto dos que sonham enquanto o leite sobe,
transborda e escorre, já rio no chão,
e gosto de quem lhes segue o sonho
e lhes margina o rio com árvores de papel"
Alexandre O´Neill

PS: Pró que me deu hoje!!!!