VOYEURISMOS, INDISCRIÇÕES E DESCRIÇÕES
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junho 30, 2009

NA solitária regressou a casa.
O gato, que durante estes dias não tenho avistado, retomou o seu lugar no parapeito para dormitar sob o sol que bate na janela.
A mulher voltou à sua rotina, anda de lá para casa, mas sem a energia que dantes lhe observei. Pára frequentes vezes, o cansaço é visivel. Leva as mãos ao rosto, tapa-o, esfrega-o, compõe o cabelo desmanchado do rabo-de-cavalo e lá segue. Parece que carrega uma cruz invisivel.
Não sai para trabalhar, suponho que se encontra de baixa médica.
Ninguém apareceu, também não a vi receber telefonema algum. Não deve ter familia chegada ou que resida perto, se a tiver. Amigos, amigas também não devem fazer parte da sua vida, ou o expectável sería eu vê-los na sala, darem-lhe um abraço. É só ela e o gato. Ela na sua vida, o gato na sua vida.
Causa-me uma tristeza profunda olhá-la, nem sei explicar bem porquê, acho que me apetecía bater-lhe à porta, dizer-lhe que eu sei que ela existe, eu vejo-a, eu percebo a sua solidão... Claro que nunca farei tal coisa, isto sou eu a falar com os meus botões.
Seja qual tenha sido a razão daquele malfadado telefonema que a levou a fazer o que fez, parece-me que a vida desta mulher sería argumento suficiente para cometer um desaire.
Pelo que observo, temo que vá tentar de novo.

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