VOYEURISMOS, INDISCRIÇÕES E DESCRIÇÕES
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junho 28, 2009

NMesmo que não me dedicasse a ver as vidas que se desenrolam no prédio da frente, a voz do garoto não me deixaría esquecer a existência de um outro edficio e a ver a causa de tanto alarido, não fosse algum incêndio a deflagrar perto de mim.
Sem pistola, faz do dedo indicador o cano que dispara ininterruptamente tiros, imita-os sem cansaço, e alterna o som de um revólver com um de metralhadora. Claro que ele não sabe que tipo de arma é, reproduz o que ouve e o que provavelmente assiste na televisão.
Mata tudo quanto mexe lá embaixo no passeio, de vez em quando esconde-se nos cortinados a defender-se de eventuais projectéis que imagina virem na sua direcção.
É uma carnificina.
A imaginação de uma criança é fabulosa. Sem limites. Põe o cenário, arranja os adereços e contrata uma equipa completa de representação, se bem que o papel principal é seu por direito.
Estava eu nestas cogitações quando o miúdo se calou. A arma ficou sem munições, a boca aberta a olhar na minha direcção.
Primeiro não me apercebi que me tivesse visto, achei que era para alguma coisa no meu prédio mas não para a minha janela.
Mas quando acenou constatei que tinha dado comigo! Ele há coisas?!
Disparou certeiro e atingiu-me no peito.
Meti-me para dentro. Algum cuidado é preciso.

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