VOYEURISMOS, INDISCRIÇÕES E DESCRIÇÕES
.
.
.
.
.
.

junho 12, 2009

NO homem reformado do 4º andar costuma pendurar uma gaiola do lado de fora da casa. Tem um canário amarelo que trina que se desunha quando o sol incide. Fica ali pela manhã e antes do meio-dia recolhe-o.
O homem tem uma almofada que costuma pousar no parapeito e onde encosta os cotovelos. É normal, passa muito tempo à janela.
Tem um vicio que acho nojento, cospe frequentemente sem se importar se há gente no passeio. Ouço-o a puxar aquela coisa e a catapultá-la com força.
Fuma, tem ataques de tosse que antecedem a expulsão dos escarros, agarra-se com ambas mãos ao parapeito quando tem aqueles acessos. Da primeira vez que assisti, temi o pior: Pensei que ía asfixiar ou perder o equilibrio e caír. É uma altura muito considerável, o resultado sería funesto.
Em tempos idos aconteceu num dos meus momentos de observação ter assistido a um suicida. Fiquei paralisado.
Até tive pesadelos. É uma imagem que nunca esquecerei. E o som. O som do corpo a bater no asfalto e a cabeça a estourar como uma abóbora que se deixa caír dos braços.
Espero não voltar nunca mais a passar por essa experiência. Nunca mais.
Isto de ver os outros também tem o seu lado negro.

Sem comentários: